Crianças de Jundiaí sofrem com o estresse
sexta-feira, 28 de outubro de 2011Irritação, cansaço, alteração no sono e ansiedade são sintomas que abalam a maioria dos adultos todos os dias. Juntos e somados a dores frequentes de cabeça, indicam um problema que atinge homens e mulheres, sem distinção: o estresse – tão comum que nem mesmo as crianças que moram em Encontra Jundiaí escapam.
Para os pequenos, garantir as notas altas no boletim escolar, ter bom desempenho nas aulas de natação, balé ou inglês e dar conta da cobrança dos pais pode ser tão estressante quanto é para qualquer adulto aquele dia de trabalho quando as coisas não saem como deveriam.
Não existem estatísticas, mas é crescente o número de crianças enfrentando crises de estresse, de acordo com especialistas.
“Já tive casos de crianças que entraram no consultório chorando, reclamando de dores de cabeça e com dores de barriga funcionais”, afirma o pediatra José Carlos Pereira Júnior. “E o estresse na sala de aula e o bullying não é a única justificativa para isso. É o próprio desrespeito entre as pessoas que chegou às escolas e faz parte do dia a dia de algumas crianças, principalmente da periferia”.
Não há remédio para o estresse infantil. A terapia é a solução indicada pelos médicos e normalmente apresenta bons resultados. Foi assim com o primogênito do casal Fábio Fiorini dos Anjos, 36 anos, técnico em eletrônica, e Daniela Aparecida Borges dos Anjos, 37, dona de casa. “O Matheus sempre foi o mais estressado e acho que, principalmente, porque minha gestação e os primeiros anos do casamento foram um pouco conturbados”, diz Daniela. O ciúmes dos irmãos – o casal tem seis filhos – é outro fator apontado pela mãe do garoto, hoje com 10 anos.
O estresse chegou a um ponto que o menino se tornou uma criança agressiva, com problemas de relacionamento na escola e com dificuldades para aceitar uma resposta negativa por parte dos pais. “Procuramos um psicólogo e ele fez acompanhamento por mais de um ano. Foi uma orientação da professora e ajudou bastante.”
Hoje, Daniela comemora os bons resultados com o filho mais velho, mas confessa que, diariamente, precisa usar as mais diferentes estratégias para lidar com o estresse dos filhos.
Tem que “rebolar”
Dar conta da educação de seis crianças é um desafio e tanto segundo a dona de casa. “Eu mesma sou uma pessoa muito agitada e acabo passando isso para eles. O clima em casa, às vezes, é muito estressante. Minha principal solução é o diálogo, procuro sempre conversar bastante com eles”, complementa.
Segundo Daniela, são muitos compromissos entre tarefas escolares e familiares e as crianças acabam ficando tão sobrecarregadas quanto os próprios pais.
Diferentes fases
Até chegar ao ponto da exaustão física, o estresse tem três fases, de acordo com a psicóloga Angela Coelho Moniz, professora do curso de psicologia da UniAnchieta: a primeira é quando o organismo fica em alerta para algo novo; a segunda é a fase da resistência e, a terceira, é de pré-exaustão. Os efeitos podem não ser visíveis, mas o estresse causa problemas não só no aspecto emocional quanto físico. “O estresse persistente, do dia a dia, é o mais perigoso e pode influenciar para que as crianças se tornem adolescentes mais suscetíveis ao envolvimento com drogas ou, ainda, pode prejudicar relacionamentos sociais no futuro”, alerta a psicóloga.
Os pais devem ficar atentos aos sintomas do estresse (leia na página ao lado) e, também, tomar cuidado para que não façam cobranças além da conta. “Às vezes, os pais cobram tanto da criança que ela acaba achando que só terá amor da família a partir do bom desempenho, seja na escola ou em uma atividade extracurricular”, afirma.
Atenção aos sintomas do estresse infantil
1 – Mudanças bruscas de humor e no comportamento
Se a criança, repentinamente, não quiser mais frequentar as aulas ou perder o interesse em uma atividade física que gostava de realizar, como as aulas de natação, futebol ou balé, os pais devem ficar atentos.
2- Irritação frequente por motivos variados
Quando a criança se irrita com facilidade e por motivos que antes não a incomodavam, este pode ser mais um sinal de alerta.
3 – Isolamento social pode ser uma forma de se proteger
Querer ficar sozinha, quietinha em um canto qualquer pode ser uma maneira encontrada pela criança para lidar com o estresse. Os pais devem prestar atenção nesse isolamento de acordo com o perfil de cada criança.
4 – Perda de apetite ou comilança de forma excessiva
Não se alimentar ou sentir a vontade de comer tudo o que vê pela frente é outro sintoma que pode indicar o estresse na criança.
5 – Insônia, pesadelos ou o excesso de sono merecem atenção
Se a criança não está conseguindo dormir ou está tendo pesadelos frequentemente, os pais devem prestar atenção no seu comportamento. O excesso de sono também acende o sinal amarelo.
6 – Reclamação por cansaço físico e muita ansiedade
Crianças ansiosas e que se cansam com atividades do dia a dia podem estar enfrentando uma crise de estresse.
7 – Dores de cabeça e dores de barriga funcionais
Se a criança reclama frequentemente de dor de cabeça ou se tem uma crise de dor de barriga repentinamente, os pais devem prestar atenção nestes e nos outros sintomas do estresse.
8 – Problemas de desempenho em sala de aula
O estresse pode atingir o desempenho da criança em sala de aula e até mesmo atrapalhar o relacionamento com os colegas.
Fonte: Diário de S. Paulo