Jundiaí ganha novo Centro para preservar memória
sexta-feira, 25 de maio de 2012Ainda não é como nos filmes da série “Código da Vinci”, onde os roteiros de Dan Brown colocam o pesquisador em arquivos de documentos medievais de alta tecnologia. Mas é um passo nessa direção.
Uma boa parte dos documentos guardados pelo Museu Histórico e Cultural de Jundiaí, que são registros oficiais desde os séculos 17 e 18, está embalada para o transporte rumo ao novo Centro de Memória de Jundiaí, nos próximos dias. “Foi muito difícil encontrar um imóvel adequado no Centro. Além de espaços para salas de restauração e de pesquisa para visitantes, tinha que ter acessibilidade”, explica Henrique Jahnel Crispim, diretor do museu e integrante do Compac (Conselho Municipal do Patrimônio).
Apesar da mudança do acervo do museu, o novo espaço também deve incluir parcerias com outras instituições que guardam documentos históricos de quase 400 anos de Jundiaí.
O local que está sendo adequado para esse trabalho fica na rua Senador Fonseca, quase na esquina com a rua Engenheiro Monlevade, com dois andares e condições para sistemas de segurança.
Sem umidade
Em uma analogia com a memória digital dos computadores, os documentos sobre a história de uma cidade correm os riscos que existem nos ambientes eletrônicos de uma forma concreta. São falhas humanas, traças e micróbios, umidade atmosférica e variação de temperatura. Um exemplo já existe no porão do Solar do Barão, onde está o museu, que conta hoje com monitoramento do nível de umidade no acervo que está na fila de restauração.
Na nova sede, o Centro de Memória vai contar com uma equipe básica e a Secretaria Municipal de Cultura vai definir os serviços especializados a serem contratados, como no caso de restauro ou recuperação de dados. “A primeira hipótese, apontada pelo Conselho Municipal de Cultura, foi um antigo prédio na praça dos Andradas. Mas como seu uso já estava definido para a assistência social, buscamos um prédio adequado”, diz a secretária Penha Camunhas Martins.
Pioneirismo
O caminho até uma versão mais moderna foi aberta ainda na década de 1980 pelo lendário diretor do museu, Geraldo Barbosa Tomanik, que criou a Biblioteca e Arquivo Histórico “José Feliciano de Oliveira”, nas dependências da instituição.
Crispim também lembra que existem diversos outros arquivos importantes na cidade, como na Cúria Diocesana, que conseguiu em 1966 os documentos acumulados desde o século 17 na Arquidiocese do Rio de Janeiro. “Também as atas coloniais da Câmara mostram muitas fontes de pesquisa para historiadores, estudantes e entidades sociais”, diz. A inauguração do Centro de Memória ainda não tem data.
Lisboa guarda batismo
O surgimento do Centro de Memória coincide com o encontro de um documento que pode redefinir a data oficial de aniversário de Jundiaí.
Para comprovar, o arquiteto Roberto Franco Bueno exibe o que promete ser o documento que substitui o perdido “livro do tombo” do reconhecimento do povoado como vila colonial, em 14 de dezembro de 1652. “Quem me trouxe isso agora foi o dentista Adilson Carvalho, que encontrou esse material na Torre do Tombo, em Lisboa”, conta ele, autor de livro sobre a história da cidade.
O citado material é uma transcrição do documento original, feita em 1767 no idioma português da época e “traduzido” por Franco Bueno nas técnicas da paleografia.
Pelo registro, naquele dia estiveram reunidos mais de 80 moradores da então Freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Jundiahy com o líder da Capitania de São Vicente, capitão-mor Miguel de Vasconcellos, reivindicando a autonomia para questões como a posse de terras (então ligadas ao mecanismo das sesmarias). “O título do documento encontrado no mais famoso arquivo de Portugal (e a origem do termo tombamento) não deixa dúvidas”, avisa.
Trata-se do “translado do Auto de Criação desta Villa de Jundiahy”, guardado no centro de memória de um dos impérios que marcaram a primeira globalização do mundo, a ibérica, nos séculos 15 e 16.
De bônus, a confirmação de que a data mais importante para a cidade continua sendo 14 de dezembro (que batiza até mesmo avenida) e não 28 de março, quando mudou de categoria para cidade no século 19. “Nós vamos continuar pesquisando novos documentos na Torre do Tombo. Agora temos um caminho e podemos fazer parte disso pela internet”, garante o pesquisador.
Além dos livros já existentes, documentos do tipo podem virar atração no novo espaço.
Mudanças
1 – Museu tem estudo para modernização de suas atividades
Com a transferência de parte do acervo para o Centro de Memória, um estudo técnico vai reforçar o papel do Solar do Barão como centro cultural do museu. Até mesmo soluções de acessibilidade a cadeirantes estão sendo pensadas sem agressão ao prédio tombado.
2 – Sarau do Barão convida interessados a declamar poesias
O auditório do museu, a sala Jayr Accioly de Souza, vai sediar amanhã às 19h um evento ligado com os 150 anos do casarão, na praça Governador Pedro de Toledo (Centro). “Qualquer pessoa pode vir declamar poesias aqui”, convida Rosa Congílio Martins de Camargo, da Comissão Municipal de Literatura.
3 – Cartórios podem ser futuros parceiros do Centro de Memória
Um dos locais importantes de documentos nos países de colonização portuguesa são os cartórios. Em Jundiaí, o 1º Cartório de Notas que acaba de mudar-se para a rua Rangel Pestana guarda documentos desde 1652. E o 1º Cartório de Registro Civil, que funciona na rua Marechal Deodoro, desde 1865. Entre outros, incluem posse e casamento nos tempos da escravidão.
Fonte: Rede Bom Dia
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