Creches de Jundiaí têm mais adultos que alunos
quarta-feira, 11 de janeiro de 2012Silêncio ao invés dos sons de risadas ou choro. Nada de vaivém pelos corredores e um parque de diversões praticamente vazio. Este é o cenário em uma creche que funciona para atender somente cinco crianças por dia.
Em guia de Jundiaí, dos 11 mil alunos matriculados nas 30 instituições públicas que funcionam na cidade, somente 4% estão frequentando diariamente as instituições neste mês de janeiro, segundo Ana Teresa Marques Mariotti, assessora do projeto de creches da prefeitura.
São crianças de pais e mães sem direito a férias neste início de ano e não têm com quem deixar as crianças. “A Justiça determinou que atendêssemos toda a demanda. Fazendo isso com 18 creches abertas, fechamos apenas as de bairros que contam com mais de uma unidade”, diz Ana Tereza.
Na EMEB Reinaldo Basile, no Jardim Tarumã, 20 adultos trabalhavam na tarde de segunda-feira para cuidar dos cinco alunos – o local tem capacidade para 105 crianças. No dia em que a frequência foi maior, segundo a diretora Vera Lúcia Martins Passero, sete crianças estavam lá.
“Estou acompanhando o funcionamento de três creches neste mês e a realidade é a mesma em todas. No Jardim Ângela são 12 crianças por dia, mas só porque estamos atendendo a demanda de outra creche daquela região”, explica.
“As crianças estão tendo atendimento particular”, brinca Ana Teresa, ressaltando a importância do convívio maior com a família em determinados períodos do ano.
“Estou acompanhando de perto o caso de três bebês que frequentam a creche há mais de um ano sem folga. O nível de estresse aumenta consideravelmente. A gente se preocupa porque a convivência com a família e, principalmente, com a mãe, é imprescindível para a formação.”
No batente / Ao mesmo tempo em que a professora Ligia Souza Garcia, de 42 anos, comemora por ter sido chamada no fim de 2011 para trabalhar (ela passou em concurso público prestado em 2010), também lamenta o fato de não estar perto dos filhos nesta época do ano em que estavam acostumados a se divertirem juntos. “Tenho dois adolescentes, um de 16 e outro de 13 anos. Esse sempre foi um período de estar em casa com eles”, diz.
A rotina mudou. Ao invés de aproveitar as férias com os filhos, Ligia neste mês se “diverte” com as crianças de outras mães que precisam da creche para trabalhar. “A parte pedagógica mesmo fica de lado em janeiro. Estamos priorizando brincadeiras para que as crianças, de certa forma, possam descansar.”
Quando ficar em casa é um presente
Ana Lúcia de Araújo Pereira, 36, se tornou merendeira da prefeitura há dez meses. Gosta do que faz e prepara cinco refeições por dia para as crianças sempre com sorriso no rosto. O fato de trabalhar em janeiro, período não-letivo, não a incomoda. Mas ela recorda com orgulho todos os obstáculos enfrentados na época em que a filha era criança para que as férias fossem aproveitadas da melhor forma possível.
“Hoje minha menina tem 14 anos. Mas quando era mais nova, eu fazia de tudo para que as férias escolares fossem bacanas para ela”, diz, contando de um ano em que trabalhava de madrugada como auxiliar de produção em uma empresa e ficava sem dormir para curtir o dia com a filha. “Acho que isso é obrigação dos pais”, conclui.
Do outro lado / Mãe de três filhos, a auxiliar de produção Érika Amaral Alves, 31, foge da possibilidade de ter que deixar as crianças na creche ou escola nesta época do ano. “Até minha mãe sempre colabora e, quando eu não posso conciliar as férias do trabalho com as escolares, ela faz isso por mim”, diz.
Neste ano, Érika está em licença maternidade. A caçula Nicolly tem 15 dias de vida; o do meio, Vitor, 2 anos e o mais velho, Vinícius, 11. “A diretora da creche aqui do bairro [Jardim Tulipas] até perguntou se eu iria precisar deixar o Vitor neste mês, mas disse que não. Férias são férias.”
Fonte: Rede Bom Dia